Por Júnior Centenaro
Seminarista Diocesano na Arquidiocese de Passo Fundo (RS)
Agente da Comissão Pastoral da Terra
Intensifica-se
a preparação para a 37ª Romaria da Terra, que acontecerá no assentamento Lagoa
do Junto, em Tapes (RS), no dia 4 de março, feriado de carnaval. É organizada
pela Comissão Pastoral da Terra (CPT/RS), pelo Regional Sul 3 da CNBB, pela
diocese sede (neste ano Porto Alegre), com a colaboração de outras igrejas
cristãs, movimentos sociais, sindicatos e organismos próximos ao local da
romaria. Esta edição tem a temática voltada para a reforma agrária, cooperação
e agroecologia. O lema escolhido convida a “Cultivar
Vida Saudável”.
Nas
palavras do Frei Wilson Dallagnol[1]
percebe-se que a “Romaria da Terra não é uma romaria qualquer. É um espaço que
unifica fé (mística) e luta do povo (política) na busca de uma convivência
menos conflitiva e mais pacífica. As Romarias dão força aos pequenos da terra,
reunindo os excluídos da sociedade e até da Igreja. Nelas, os pobres da terra
podem dizer o que sentem em sua própria linguagem. Não são palavras vazias. São
expressões de vida, de caminhada penitencial, expressão do sentimento comum que
perpassa a todos os que sonham com uma nova sociedade, começando pela reforma
agrária, por uma convivência igualitária entre homens e mulheres e respeito aos
direitos humanos”.
Como
cristãos não podemos aceitar que uns tenham muito, outros pouco e uma boa parte
nada, sabendo que a terra é dom de Deus e pertence a todos. Não é nada cristão
calar-se diante da concentração fundiária do Brasil, que se mantem hoje nos
mesmos níveis que 1986[2].
Em artigo sobre a democratização do acesso à terra, Fernando Prioste[3] e
Tchenna Maso[4]
alertam que 1% dos proprietários controla 45% das terras cultiváveis no país. Têm-se,
até aqui, bons e justos motivos para a Reforma Agrária popular.
Percebemos,
nas primeiras comunidades cristãs, o espírito fraterno de partilha dos bens,
onde tudo era posto em comum. Como ficou difícil falar em cooperação num
sistema que prima pelo individualismo, pela competição e pelo acumulo de bens.
Nesse sentido a Romaria vem mostrar o espaço de vida, trabalho e produção nos
assentamentos da reforma agrária, caracterizados pela cooperação, cuidado com a
natureza, com a permanência dos jovens no campo e na luta por justiça social.
Dentro
da temática, ainda destaca-se o esforço para a produção agroecológica,
garantindo a vida e a biodiversidade, alimentos saudáveis e novas alternativas
para enfrentar o uso massivo de agrotóxicos. Existe uma luta laboriosa para que
o governo faça uma opção verdadeira pela agricultura familiar, que sofre com a
pressão esmagadora do agronegócio, garantindo melhores condições aos produtores
rurais. Pesquisas recentes mostraram que 70% dos alimentos que vão à mesa dos
brasileiros (as) são oriundos da agricultura familiar. E nós, como igreja, como
agimos diante do triste dado de que 30% das propriedades gaúchas não possuem
sucessão? A final, qual é nossa preocupação com a evangelização na roça? Mais
ainda, como estão nossas ações para incluir os jovens do campo na igreja?
Todas
essas são questões levantadas pelo espírito e compromisso da Romaria da Terra.
São muitos os que lutam pela terra, camponeses, indígenas, quilombolas... e o Evangelho
deve nos levar à um compromisso ético com estas realidades. Como seminaristas
rumo ao presbiterado não podemos esquecer-nos da luta por maior justiça social.
O papa Francisco nos pede uma Igreja em saída, pobre com os pobres, pastores
com cheiro de ovelha. Pastores com cheiro do povo que sofre excluído pelo
agronegócio, pelos interesses das multinacionais, pelo espírito competitivo,
que visa superar o outro.
Seminaristas!
Vamos juntos fazer essa peregrinação, na busca da terra prometida (justiça,
igualdade, fraternidade, partilha, diálogo), em vista do Reino de Deus. Dom
Spengler (Arcebispo de Porto Alegre, RS) nos diz que, “como homens e mulheres
que se sentem iluminados, sustentados e amparados pela experiência da fé, como
seguidores de Jesus Cristo, desejamos celebrar a vitalidade da mãe terra. Em
comunhão com todos os homens e mulheres de boa vontade queremos participar
desta grande celebração da fé, caridade e esperança. Vamos participar deste
momento singular da caminhada da Igreja no Rio Grande do Sul. Sonhamos
certamente com uma Terra verdadeiramente sem males” (Voz Da Terra, novembro de
2013).
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