terça-feira, 5 de agosto de 2014

Homilia do Arcebispo

VISITA DE DOM ANTÔNIO CARLOS ALTIERI A SERAFINA CORRÊA POR OCASIÃO DA FESTA DO DIA DO PADRE

SANTA MISSA PARA O DIA DO PADRE
HOMILIA DO ARCEBISPO

Santuário Nossa Senhora do Rosário, Serafina Corrêa
segunda-feira, 04 de agosto de 2014

Estimados Irmãos no Episcopado, D. Urbano e D. Ercílio e 
Queridos irmãos no sacerdócio!

Na festa litúrgica de São João Maria Vianney, o Cura D´Ars, patrono dos padres, celebramos o dia feliz do sacerdócio e da nossa alegria sacerdotal. O Senhor ungiu-nos em Cristo com óleo da alegria, e esta unção convida-nos a acolher e cuidar deste grande dom: a alegria, o júbilo sacerdotal. O Papa Francisco nos disse, aos bispos, que não tem sentido um bispo triste... penso que até por analogia podemos dizer que não tem sentido um padre triste !!!

A alegria do sacerdote é um bem precioso tanto para si mesmo como para todo o povo fiel de Deus: do meio deste povo fiel é chamado o sacerdote para ser ungido e é enviado para ungir o mesmo povo ao qual pertencia...

Ungidos com óleo de alegria para ungir com óleo de alegria. Celebrar a Eucaristia para ser Eucaristia para os demais... A alegria sacerdotal tem a sua fonte no Amor do Pai, e o Senhor deseja que a alegria deste amor «esteja em nós» e «seja completa». Gosto de pensar na alegria contemplando Nossa Senhora, que temos o privilégio de seu patrocínio em nossa Arquidiocese: Maria é «Mãe do Evangelho vivente, fonte de alegria para os pequeninos» (Exort. ap. Evangelii Gaudium, 288), e creio não exagerar se dissermos que o sacerdote é uma pessoa muito pequena: a grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o ministério nos coloca entre os menores dos homens. O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às suas forças; por isso, a nossa oração de defesa contra toda a cilada do Maligno é a oração da nossa Mãe: sou sacerdote, porque Ele olhou com bondade para a minha pequenez. E, a partir desta pequenez, recebemos a nossa alegria. Alegria na nossa pequenez!

Na nossa alegria sacerdotal, existem três características significativas: uma alegria que nos unge (sem nos tornar untuosos, suntuosos e presunçosos), uma alegria incorruptível e uma alegria missionária que irradia para todos e todos atrai a começar, pelos mais distantes...

Uma alegria que nos unge. Quer dizer: penetrou no íntimo do nosso coração, configurou-o e fortificou-o sacramentalmente. A graça enche-nos e derrama-se íntegra, abundante e plena em cada sacerdote. Ungidos até aos ossos… e a nossa alegria, que brota de dentro, é o eco desta unção.

Uma alegria incorruptível. A integridade do Dom – ninguém lhe pode tirar nem acrescentar nada – é fonte incessante de alegria: uma alegria incorruptível, a propósito da qual prometeu o Senhor que ninguém no-la poderá tirar. Pode ser adormentada ou sufocada pelo pecado ou pelas preocupações da vida, mas, no fundo, permanece intacta como o tição aceso dum cepo queimado sob as cinzas, e sempre se pode renovar.

Uma alegria missionária. A alegria do sacerdote está intimamente relacionada com o povo fiel e santo de Deus, porque se trata de uma alegria eminentemente missionária.  A unção ordena-se para ungir o povo fiel e santo de Deus: para batizar e confirmar, para curar e consagrar, para abençoar, para consolar e evangelizar.

E, sendo uma alegria que flui apenas quando o Pastor está no meio do seu rebanho é, por isso, uma «alegria guardada» por este mesmo rebanho. Mesmo nos momentos de tristeza, quando tudo parece escurecer-se e nos tenta a vertigem do isolamento, naqueles momentos apáticos e chatos que por vezes nos assaltam na vida sacerdotal (e pelos quais também eu passei), mesmo em tais momentos o povo de Deus é capaz de guardar a alegria, é capaz de proteger-te, abraçar-te, ajudar-te a abrir o coração e reencontrar uma alegria renovada.

«Alegria guardada» pelo rebanho e guardada também por três irmãs que a rodeiam, protegem e defendem: irmã pobreza, irmã fidelidade e irmã obediência.

A alegria do sacerdote é uma alegria que tem como irmã a pobreza. O sacerdote é pobre de alegrias meramente humanas: renunciou a tantas coisas! E, visto que é pobre – ele que tantas coisas dá aos outros –, a sua alegria deve pedi-la ao Senhor e ao povo fiel de Deus. Não deve buscá-la ele mesmo. Sabemos que o nosso povo é generosíssimo a agradecer aos sacerdotes os mínimos gestos de bênção e, de modo especial, os Sacramentos. Muitos, falando da crise de identidade sacerdotal, não têm em conta que a identidade pressupõe pertença. Não há identidade – e, consequentemente, alegria de viver – sem uma ativa e empenhada pertença ao povo fiel de Deus. O sacerdote que pretende encontrar a identidade sacerdotal perguntando a si mesmo,  na própria interioridade, talvez não encontre nada mais senão sinais que dizem «saída»: sai de ti mesmo, sai em busca de Deus na adoração, sai e dá ao teu povo aquilo que te foi confiado,  e o teu povo terá o cuidado de fazer-te sentir e experimentar quem és, como te chamas, qual é a tua identidade e fazer-te-á rejubilar com aquele cem por um que o Senhor prometeu aos seus servos. Se não sais de ti mesmo, o óleo torna-se rançoso e a unção não pode ser fecunda. Sair de si mesmo requer despojar-se de si, comporta pobreza...

A alegria sacerdotal é uma alegria que tem como irmã a fidelidade. Ouvimos Jeremias na Primeira Leitura hoje.  Não tanto no sentido de que seremos todos «imaculados» (quem dera que o fôssemos, com a graça de Deus!), dado que somos pecadores. Aqui está a chave da fecundidade. Os filhos espirituais que o Senhor dá a cada sacerdote, aqueles que batizou, as famílias que abençoou e ajudou a caminhar, os doentes que apoia, os jovens com quem partilha a catequese e a formação, os pobres que socorre… todos eles são esta «Esposa» que o sacerdote se sente feliz em tratar como sua predileta e única amada e ser-lhe fiel sem cessar. É a Igreja viva, com nome e sobrenome, da qual o sacerdote cuida na sua paróquia ou na missão que lhe foi confiada, é essa que lhe dá alegria quando lhe é fiel, quando faz tudo o que deve fazer e deixa tudo o que deve deixar contanto que permaneça no meio das ovelhas que o Senhor lhe confiou.

A alegria sacerdotal é uma alegria que tem como irmã a obediência. Obediência à Igreja na Hierarquia que nos dá, por assim dizer, não só o âmbito mais externo da obediência: a paróquia à qual sou enviado, as faculdades do ministério, aquele encargo particular… e ainda a união com Deus Pai, de Quem deriva toda a paternidade. Mas também a obediência à Igreja no serviço: disponibilidade e prontidão para servir a todos, sempre e da melhor maneira, à imagem de «Nossa Senhora da Prontidão» , que se apressa a servir sua prima e está atenta na festa de Caná, onde falta o vinho. A disponibilidade do sacerdote faz da Igreja a Casa das portas abertas, refúgio para os pecadores, lar para aqueles que vivem na rua, casa de cura para os doentes, acampamento para os jovens, sessão de catequese para as crianças da Primeira Comunhão… Onde o povo de Deus tem um desejo ou uma necessidade, aí está o sacerdote que sabe escutar e pressente um mandato amoroso de Cristo que o envia a socorrer com misericórdia tal necessidade ou a apoiar aqueles bons desejos com caridade criativa.

Neste dia do Padre, peço ao Senhor Jesus que faça descobrir a muitos jovens aquele ardor do coração que faz acender a alegria logo que alguém tem a feliz audácia de responder com prontidão à sua chamada.

Neste dia do Padre, peço ao Senhor Jesus que conserve o brilho jubiloso nos olhos dos nossos padres jovens, que partem para «se dar a comer» pelo mundo, para consumar-se no meio do povo fiel de Deus, que exultam preparando as primeiras homilias, as primeiras Missas, os primeiros Sacramentos, a primeira Confissão… É a alegria de poder, pelas primeiras vezes, como ungidos, partilhar – maravilhados – o tesouro do Evangelho e sentir que o povo fiel volta a ungir-te de outra maneira: com os seus pedidos, inclinando a cabeça para que tu os abençoes, apertando-te as mãos, apresentando-te aos seus filhos, intercedendo pelos seus doentes…

Neste dia do Padre, peço ao Senhor Jesus que confirme a alegria sacerdotal daqueles que têm muitos anos de ministério. Aquela alegria que, sem desaparecer dos olhos, pousa sobre os ombros de quantos suportam o peso do ministério, aqueles sacerdotes que já tomaram o pulso ao trabalho, reúnem as suas forças e se rearmam: «tomam fôlego», como dizem os desportistas.

Enfim, neste dia sacerdotal, peço ao Senhor Jesus que brilhe a alegria dos sacerdotes idosos, sãos ou doentes. É a alegria da Cruz, que brota da certeza de possuir um tesouro incorruptível num vaso de barro que se vai desfazendo. Sim meus queridos irmãos, é na generosidade de doar-se, onde acontece o estupendo milagre da multiplicação que ouvimos no Evangelho. Sejamos nós, clero arquidiocesano de Passo Fundo os generosos multiplicadores do Amor de Deus, primeiro entre nós, que precisa cada dia ser construído por mim e por vocês. Quando tivermos então, amadurecidos neste Amor, então todos os irmãos nossos poderão reconhecer em nós Atos de Apóstolos de Jesus: Vede como eles se amam. Amém !


Laus Deo !

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