VISITA DE DOM ANTÔNIO CARLOS ALTIERI A SERAFINA CORRÊA POR OCASIÃO DA
FESTA DO DIA DO PADRE
SANTA MISSA PARA O DIA DO PADRE
HOMILIA DO ARCEBISPO
Santuário Nossa Senhora do Rosário, Serafina Corrêa
segunda-feira, 04 de agosto de 2014
Estimados
Irmãos no Episcopado, D. Urbano e D. Ercílio e
Queridos irmãos no sacerdócio!
Queridos irmãos no sacerdócio!
Na festa litúrgica de São João Maria Vianney, o
Cura D´Ars, patrono dos padres, celebramos o dia feliz do sacerdócio e da nossa
alegria sacerdotal. O Senhor ungiu-nos em Cristo com óleo da alegria, e esta unção convida-nos a acolher e cuidar deste
grande dom: a alegria, o júbilo
sacerdotal. O Papa Francisco nos disse, aos bispos, que não tem sentido um
bispo triste... penso que até por analogia podemos dizer que não tem sentido um
padre triste !!!
A alegria do sacerdote é um bem precioso tanto
para si mesmo como para todo o povo fiel de Deus: do meio deste povo fiel é
chamado o sacerdote para ser ungido e é enviado para ungir o mesmo povo ao qual
pertencia...
Ungidos com óleo de alegria para ungir com óleo
de alegria. Celebrar a Eucaristia para ser Eucaristia para os demais... A
alegria sacerdotal tem a sua fonte no Amor do Pai, e o Senhor deseja que a
alegria deste amor «esteja em nós» e «seja completa». Gosto de pensar na
alegria contemplando Nossa Senhora, que temos o privilégio de seu patrocínio em
nossa Arquidiocese: Maria é «Mãe do Evangelho vivente, fonte de alegria para os
pequeninos» (Exort. ap. Evangelii Gaudium,
288),
e creio não exagerar se dissermos que o sacerdote é uma pessoa muito pequena: a
grandeza incomensurável do dom que nos é dado para o ministério nos coloca entre
os menores dos homens. O sacerdote é o mais pobre dos homens, se Jesus não o
enriquece com a sua pobreza; é o servo mais inútil, se Jesus não o trata como
amigo; é o mais louco dos homens, se Jesus não o instrui pacientemente como fez
com Pedro; o mais indefeso dos cristãos, se o Bom Pastor não o fortifica no
meio do rebanho. Não há ninguém menor que um sacerdote deixado meramente às
suas forças; por isso, a nossa oração de defesa contra toda a cilada do Maligno
é a oração da nossa Mãe: sou sacerdote, porque Ele olhou com bondade para a
minha pequenez. E, a partir desta pequenez, recebemos a nossa alegria. Alegria
na nossa pequenez!
Na nossa alegria sacerdotal, existem três
características significativas: uma
alegria que nos unge (sem nos tornar untuosos, suntuosos e presunçosos), uma alegria incorruptível e uma alegria missionária que irradia para
todos e todos atrai a começar, pelos mais distantes...
Uma
alegria que nos unge. Quer dizer: penetrou no íntimo do nosso
coração, configurou-o e fortificou-o sacramentalmente. A graça enche-nos e
derrama-se íntegra, abundante e plena em cada sacerdote. Ungidos até aos ossos…
e a nossa alegria, que brota de dentro, é o eco desta unção.
Uma
alegria incorruptível. A integridade do Dom – ninguém lhe pode tirar
nem acrescentar nada – é fonte incessante de alegria: uma alegria
incorruptível, a propósito da qual prometeu o Senhor que ninguém no-la poderá
tirar. Pode ser adormentada ou sufocada pelo pecado ou pelas preocupações da
vida, mas, no fundo, permanece intacta como o tição aceso dum cepo queimado sob
as cinzas, e sempre se pode renovar.
Uma alegria
missionária. A alegria do sacerdote está intimamente
relacionada com o povo fiel e santo de Deus, porque se trata de uma alegria
eminentemente missionária. A unção
ordena-se para ungir o povo fiel e santo de Deus: para batizar e confirmar,
para curar e consagrar, para abençoar, para consolar e evangelizar.
E, sendo uma alegria que flui apenas quando o Pastor
está no meio do seu rebanho é, por isso, uma «alegria guardada» por este mesmo
rebanho. Mesmo nos momentos de tristeza, quando tudo parece escurecer-se e nos
tenta a vertigem do isolamento, naqueles momentos apáticos e chatos que por
vezes nos assaltam na vida sacerdotal (e pelos quais também eu passei), mesmo
em tais momentos o povo de Deus é capaz de guardar a alegria, é capaz de
proteger-te, abraçar-te, ajudar-te a abrir o coração e reencontrar uma alegria
renovada.
«Alegria guardada» pelo rebanho e guardada
também por três irmãs que a rodeiam, protegem e defendem: irmã pobreza, irmã fidelidade e irmã obediência.
A alegria do sacerdote é uma alegria que tem
como irmã a pobreza. O sacerdote é pobre de alegrias meramente humanas:
renunciou a tantas coisas! E, visto que é pobre – ele que tantas coisas dá aos
outros –, a sua alegria deve pedi-la ao Senhor e ao povo fiel de Deus. Não deve
buscá-la ele mesmo. Sabemos que o nosso povo é generosíssimo a agradecer aos
sacerdotes os mínimos gestos de bênção e, de modo especial, os Sacramentos.
Muitos, falando da crise de identidade sacerdotal, não têm em conta que a
identidade pressupõe pertença. Não há identidade – e, consequentemente, alegria
de viver – sem uma ativa e empenhada pertença ao povo fiel de Deus. O sacerdote
que pretende encontrar a identidade sacerdotal perguntando a si mesmo, na própria interioridade, talvez não encontre
nada mais senão sinais que dizem «saída»: sai de ti mesmo, sai em busca de Deus
na adoração, sai e dá ao teu povo aquilo que te foi confiado, e o teu povo terá o cuidado de fazer-te sentir
e experimentar quem és, como te chamas, qual é a tua identidade e fazer-te-á
rejubilar com aquele cem por um que o Senhor prometeu aos seus servos. Se não
sais de ti mesmo, o óleo torna-se rançoso e a unção não pode ser fecunda. Sair
de si mesmo requer despojar-se de si, comporta pobreza...
A alegria sacerdotal é uma alegria que tem como
irmã a fidelidade. Ouvimos Jeremias na Primeira Leitura hoje. Não tanto no sentido de que seremos todos
«imaculados» (quem dera que o fôssemos, com a graça de Deus!), dado que somos
pecadores. Aqui está a chave da fecundidade. Os filhos espirituais que o Senhor
dá a cada sacerdote, aqueles que batizou, as famílias que abençoou e ajudou a
caminhar, os doentes que apoia, os jovens com quem partilha a catequese e a
formação, os pobres que socorre… todos eles são esta «Esposa» que o sacerdote
se sente feliz em tratar como sua predileta e única amada e ser-lhe fiel sem
cessar. É a Igreja viva, com nome e sobrenome, da qual o sacerdote cuida na sua
paróquia ou na missão que lhe foi confiada, é essa que lhe dá alegria quando
lhe é fiel, quando faz tudo o que deve fazer e deixa tudo o que deve deixar
contanto que permaneça no meio das ovelhas que o Senhor lhe confiou.
A alegria sacerdotal é uma alegria que tem como
irmã a obediência. Obediência à Igreja na Hierarquia que nos dá, por assim
dizer, não só o âmbito mais externo da obediência: a paróquia à qual sou
enviado, as faculdades do ministério, aquele encargo particular… e ainda a
união com Deus Pai, de Quem deriva toda a paternidade. Mas também a obediência
à Igreja no serviço: disponibilidade e prontidão para servir a todos, sempre e
da melhor maneira, à imagem de «Nossa Senhora da Prontidão» , que se apressa a
servir sua prima e está atenta na festa de Caná, onde falta o vinho. A
disponibilidade do sacerdote faz da Igreja a Casa das portas abertas, refúgio
para os pecadores, lar para aqueles que vivem na rua, casa de cura para os
doentes, acampamento para os jovens, sessão de catequese para as crianças da
Primeira Comunhão… Onde o povo de Deus tem um desejo ou uma necessidade, aí
está o sacerdote que sabe escutar e pressente um mandato amoroso de Cristo que
o envia a socorrer com misericórdia tal necessidade ou a apoiar aqueles bons
desejos com caridade criativa.
Neste dia do Padre, peço ao Senhor Jesus que
faça descobrir a muitos jovens aquele ardor do coração que faz acender a
alegria logo que alguém tem a feliz audácia de responder com prontidão à sua
chamada.
Neste dia do Padre, peço ao Senhor Jesus que
conserve o brilho jubiloso nos olhos dos nossos padres jovens, que partem para
«se dar a comer» pelo mundo, para consumar-se no meio do povo fiel de Deus, que
exultam preparando as primeiras homilias, as primeiras Missas, os primeiros
Sacramentos, a primeira Confissão… É a alegria de poder, pelas primeiras vezes,
como ungidos, partilhar – maravilhados – o tesouro do Evangelho e sentir que o
povo fiel volta a ungir-te de outra maneira: com os seus pedidos, inclinando a
cabeça para que tu os abençoes, apertando-te as mãos, apresentando-te aos seus
filhos, intercedendo pelos seus doentes…
Neste dia do Padre, peço ao Senhor Jesus que
confirme a alegria sacerdotal daqueles que têm muitos anos de ministério.
Aquela alegria que, sem desaparecer dos olhos, pousa sobre os ombros de quantos
suportam o peso do ministério, aqueles sacerdotes que já tomaram o pulso ao
trabalho, reúnem as suas forças e se rearmam: «tomam fôlego», como dizem os
desportistas.
Enfim, neste dia sacerdotal, peço ao Senhor
Jesus que brilhe a alegria dos sacerdotes idosos, sãos ou doentes. É a alegria
da Cruz, que brota da certeza de possuir um tesouro incorruptível num vaso de
barro que se vai desfazendo. Sim meus queridos irmãos, é na generosidade de
doar-se, onde acontece o estupendo milagre da multiplicação que ouvimos no
Evangelho. Sejamos nós, clero arquidiocesano de Passo Fundo os generosos
multiplicadores do Amor de Deus, primeiro entre nós, que precisa cada dia ser
construído por mim e por vocês. Quando tivermos então, amadurecidos neste Amor,
então todos os irmãos nossos poderão reconhecer em nós Atos de Apóstolos de
Jesus: Vede como eles se amam. Amém !
Laus Deo !
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