Cônego Bento, como
reitor de um seminário, sempre aceitava, gentilmente, ser chamado mesmo estando
no serviço, para atender esta ou aquela pessoa. Ora eram visitas dos pais dos
alunos, outras vezes compradores ou vendedores de mercadorias. Todos os dias o
recado era este:
- Cônego Bento, tem gente que falar
como senhor!
E lá se ia novamente até a portaria de
casa, para o atendimento.
Mas uma pessoa que não desejava mais
atender , pelas vezes em que foi enganado, era o vendedor de mel. Naquela época
não havia associação de produtores como hoje, trabalhando com sinceridade.
Havia, sim, muitos vendedores e poucos produtores.
Cônego Bento não sabia mais como atendê-los
bem e despedi-los rapidamente, até que descobriu um diálogo breve e de efeito
fulminante.
- O senhor não quer comprar mel puro? –
indagava o vendedor, convencido da qualidade de seu produto.
- O senhor tem mel puro? – retrucava
prontamente cônego Bento.
- Sim, sem dúvida! – e mostrava duas
abelhas por cima do mel.
- Mas o senhor tem certeza de que o mel
é puro mesmo? – continuava insistindo, como se tivesse dúvida.
- Toda vida, cônego Bento, lhe garanto
que é mel puro! – repetia o vendedor.
- Mas se o senhor tem toda certeza de
que é mel puro, então não posso comprar.
- Mas por que não? – repetia o
vendedor. – É mel puro que tenho!
- Acontece, dizia o cônego Bento, que
eu não posso com mel puro, me faz mal. Só posso aceitar aquele misturado,
feito com limão e açúcar.
Percebendo a armadilha, o vendedor
baixava a cabeça, recolhia a lata a saía de cabeça baixa, prometendo trazer, da
próxima vez, o mel de recomendação médica. Testemunhas contam que encontraram
vendedores de mel saindo com um sorriso nos lábio, ao reconhecer a cilada.
(BARTH, Adalíbio – Histórias de Amor e Vida.
Erechim-RS, Gráfica e Editora São Cristóvão, 2011)
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