O encontro com Jesus Cristo: caminho de libertação e promoção da vida*
O período quaresma de um modo
geral se caracteriza por nos apresentar liturgias de profunda e ampla
significação. A Quaresma essencialmente é um tempo em que somos convidados a
realizarmos a experiência comunhão intima com o Cristo Jesus. Quaresma é tempo
de conversão, penitencia reconciliação. É tempo em que através dos exercícios
quaresmais, o jejum, a esmola e a oração, somos chamados a viver com maior
determinação proposta do Evangelho. Acima de tudo Quaresma é tempo privilegiado
de Encontro com Cristo.
A liturgia dos últimos dois fins
de semana vai nos apresentar respectivamente dois momentos muito bonitos na
vida de Jesus. Primeiramente a Transfiguração na montanha, local que lembra a
proximidade com Deus e consequentemente, espaço de encontro com o mesmo. No
domingo passado, nos deparamos com o episodio em que Jesus encontra-se com a
samaritana. Neste domingo o fato que norteia o Evangelho mais uma vez o
Evangelho é um encontro, desta vez entre o Nazareno e o cego de nascença. Desta
forma vamos percebendo o poder transformador que existe na experiência de aproximação
e união com Cristo.
Na passagem bíblica em questão
Jesus restitui ao homem o poder da visão, ou seja, faz com que ele a partir de
sua fé, possa encontrar verdadeiramente a luz. A cura da cegueira pode ser compreendida
para muito alem da cura corporal. Constitui-se, sem duvida como um gesto que
conduz a libertação do ser humano como um todo. Enxergar é algo que nos
possibilita ver para alem das meras aparências.
Ainda na primeira leitura, tirada
do livro de Samuel vamos nos deparar com a importância do verbo VER, ENXERGAR.
Vemos como Samuel é enviado por Deus até Belém, a fim de encontrar aquele que
fora escolhido para reinar sobre Israel. O profeta é exortado a não observar
meramente o porte físico, a estatura do eleito, ou seja, a aparência, aquilo
que integra os critérios humanos de julgamento mas sim o seu coração, a sua
essência.
Vivemos em um mundo marcado por relações
superficialistas, em que a todo instante nos são apresentados modelos ideais,
paradigmas de uma suposta perfeição, em que o externo, o visível, a casca, são
supervalorizados, cultuados e por que não dizer endeusados. Neste dia o Senhor
nos faz, portanto um apelo de conversão, de mudança e transformação de nossa
ótica. A exemplo dele devemos deixar de nos preocupar tanto com o mundano e com
a aparência e lançarmos um olhar mais profundo sobre aquilo e aqueles que estão
a nossa volta. Um olhar que transpassa a aparência e que descobre a essência do
coração.
Em sua carta a comunidade Éfeso,
Paulo vai justamente chamar atenção para a necessidade de sermos sempre
transparente aos olhos de Deus e de nossos irmãos. Assim sendo devemos nos
esforçar para arrancar as mascaras, a maquiagem que muitas vezes existem em
torno de nós. “Não vos associeis às obras
das trevas, que não levam a nada; antes desmascarai-as.”
Tal convite ressoa forte nestes
dias em que vivenciamos a Quaresma. Abandonar as “obras das trevas” significa
abandonar também tudo aquilo que nos aprisiona, que obscurece nossa existência,
que nos torna cegos ao projeto de Deus. E com certeza na sociedade de hoje são
inúmeros os caminhos que muitas vezes nos conduzem a um mundo de trevas e
erros. O caminho da ganância, do lucro excessivo, da exploração do abuso do ter
e do poder. Dentro de nossas famílias, o rancor, o ódio, o ciúme, a inveja. Ao
nos aproximarmos do Cristo Jesus, vamos cultivando em nossos corações os mesmos
sentimentos do mestre, e podemos assim ver mais claramente a luz que dele
emana.
Finalmente no Evangelho
encontramos o ápice da mensagem deste fim de semana: o encontro de Jesus com o
cego de nascença. O documente de Aparecida chama atenção e insiste na
necessidade de realizarmos constantemente o Encontro com Jesus Cristo. De fato,
aquele cego é a prova de que tal experiência concretiza-se como algo que nos
transforma por inteiro e de forma extraordinária. A sua vida nunca mais seria a
mesma a partir daquele momento. Mais do que a visão, Jesus lhe restitui algo
muito mais precioso, a sua dignidade humana. A prática libertadora de Jesus se
da, sobretudo na maneira como reintegra o individuo excluído a vida em
plenitude.
No rosto daquele homem é possível
reconhecer a face de todos os moribundos, de todos os excluídos e abandonados,
de todos os que são jogados a margem da sociedade, em todos os tempos e
lugares. Diante do absoluto e máximo estado de miséria humana Jesus manifesta a
sua infinita misericórdia e compaixão. Quando questionado por seus discípulos,
ele os adverte: “É necessário que nos realizemos as obras daquele que me enviou,
enquanto é dia. Vem à noite em que ninguém pode trabalhar.” O recado é simples
e direto: a vivência de seu Evangelho deve dar-se de forma autêntica, imediata
e radical. O discípulo deve ser luz em seu meio, ir ao encontro daqueles que
clamam por vida e libertação, que estão perdidos na escuridão.
Olhando para a figura do que era
cego de nascença e que por conta de sua fé foi curado, com certeza a também a
nossa esperança no Deus que nos acompanha e protege é alimentada e fortalecida.
Da mesma forma como teve compaixão daquele que estava a beira do caminho,
Cristo não é indiferente e omisso perante as dores e sofrimentos de nosso
dia-dia. Basta que a exemplo do cego, nós tenhamos fé e nos deixemos
transfigurar pela luz que vem de Jesus.
A partir do momento em que
fazemos o encontro com Jesus, que cremos nele e somos libertos de nossas
cegueiras, e consequentemente assumirmos também um compromisso nesta mesma fé.
Como Cristo, o sol de justiça se fez luz para a nossa salvação, nós cristão nos
dias de hoje temos a grande e bela missão de sermos verdadeiros sinais de luz
em mundo marcado por tantos sinais de morte e de trevas. Como discípulos de
Jesus, somos chamados a sermos instrumentos de transformação e de promoção da
vida digna.
Darlan Lorenzetti
Seminarista Diocesano da Diocese de Erexim
*À respeito da liturgia deste fim de semana
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