quinta-feira, 9 de maio de 2013

COMEÇAM COM AS GALINHAS


         O cônego Bento tinha grande criação de animais que necessitava para o consumo da casa, que era o seminário. Predileção especial ele demonstrava pelo galinheiro, que ficava perto da casa. Ali tudo era bem organizado: galinhas poedeiras, galetos para engorda, local de ração, enfim, instalações compatíveis com a época, os anos 60.
         Neste tempo, em Tapera não havia criminalidade, e o lugar era pacato. Na delegacia não registravam muitas ocorrências, a não ser aquelas de “fim de baile” e alguma intriga de vizinho. De vez em quando, surgia algum rouba, mas os ladrões não eram muito especializados. A maioria era ladrão de galinha.
         Numa dessas batidas, a vítima foi o caprichoso galinheiro do cônego Bento. Quem o conheceu recorda do jeito magoado com que passava o dia, quando acontecia um fato desses. Deixava-o muito humilhado.
         A notícia do roube se espalhou e, uma vez registrada a queixa, saiu atrás do suspeito. O único rastro deixado foram as marcas de alpargatas. Muitas pistas surgiram. Sem mandado de busca e apreensão, saiu como detetive à procura do ladrão. Finalmente, tudo indicava certo indivíduo. Não teve dúvidas. Agor5a o delegado deve entrar em ação para trazê-lo a delegacia.
         Diante do delegado apresentou-se um sujeito mal-encarado, de estatura média e de olhar penetrante, aparentando uns vinte anos.
         O delegado expôs o acontecido e, com muitas perguntas capciosas pressionava a confissão do réu. Quando já quando já estava desanimado, mandou entrar na sala o cônego Bento, explicando-lhe a possível inocência do réu e que não conseguira avançar nas investigações.
         Cônego Bento olhou firme, primeiro para os olhos e depois para os pés do suspeito, dizendo:
         - Foi você, porque estava de chinelo de dedo, naquela noite!
         Ao que o homem respondeu, olhando para o delegado:
         - Está vendo, senhor delegado, como não fui eu. Está dizendo que eu estava de chinelos de dedo, naquela noite, e eu estava de alpargatas.
         Entrou em cana na hora.

(BARTH, Adalíbio – Histórias de Amor e Vida.
Erechim-RS, Gráfica e Editora São Cristóvão, 2011)

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