domingo, 12 de maio de 2013

MENTIRA DESMASCARADA



Cônego Bento, como reitor de um seminário, sempre aceitava, gentilmente, ser chamado mesmo estando no serviço, para atender esta ou aquela pessoa. Ora eram visitas dos pais dos alunos, outras vezes compradores ou vendedores de mercadorias. Todos os dias o recado era este:
         - Cônego Bento, tem gente que falar como senhor!
         E lá se ia novamente até a portaria de casa, para o atendimento.
         Mas uma pessoa que não desejava mais atender , pelas vezes em que foi enganado, era o vendedor de mel. Naquela época não havia associação de produtores como hoje, trabalhando com sinceridade. Havia, sim, muitos vendedores e poucos produtores.
         Cônego Bento não sabia mais como atendê-los bem e despedi-los rapidamente, até que descobriu um diálogo breve e de efeito fulminante.
         - O senhor não quer comprar mel puro? – indagava o vendedor, convencido da qualidade de seu produto.
         - O senhor tem mel puro? – retrucava prontamente cônego Bento.
         - Sim, sem dúvida! – e mostrava duas abelhas por cima do mel.
         - Mas o senhor tem certeza de que o mel é puro mesmo? – continuava insistindo, como se tivesse dúvida.
         - Toda vida, cônego Bento, lhe garanto que é mel puro! – repetia o vendedor.
         - Mas se o senhor tem toda certeza de que é mel puro, então não posso comprar.
         - Mas por que não? – repetia o vendedor. – É mel puro que tenho!
         - Acontece, dizia o cônego Bento, que eu não posso com mel puro, me faz mal. Só posso aceitar aquele misturado, feito com limão e açúcar.
         Percebendo a armadilha, o vendedor baixava a cabeça, recolhia a lata a saía de cabeça baixa, prometendo trazer, da próxima vez, o mel de recomendação médica. Testemunhas contam que encontraram vendedores de mel saindo com um sorriso nos lábio, ao reconhecer a cilada.


(BARTH, Adalíbio – Histórias de Amor e Vida.
Erechim-RS, Gráfica e Editora São Cristóvão, 2011)

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